O rubro negro, Leonardo Camello, nos enviou por e-mail, a coluna que escreveu para o site
sportnet, para que seja divulgada também em nosso blog. Nela, tenta esclarecer toda a polêmica do título de 1987 do Sport. Camello tem razão, seu texto é longo, mas é muito objetivo e vale realmente a pena ler.
Dignidade de isopor
Eu sei, o texto é longo. Mas eu garanto que um pouco de conhecimento não causará mal nenhum ao leitor. Ao contrário, talvez até exercite um lado pouco ativado da memória e da capacidade de raciocínio e cognição.
Como profissional da área de Direito, aprendi desde o começo que decisão judicial não se afronta, se cumpre. Você pode atacá-la, mediante recursos ou outros remédios judiciais. Porém, nunca pela via “oblíqua”, pelas negociatas, pelas maracutais, pela troca de favores, pela presunção, pela pura e simples arrogância. Aprendi também que não é NENHUM demérito procurar a Justiça para reconhecer determinado direito ou pretensão a direito. Ao contrário. Esse é o caminho que as pessoas de bem utilizam para fazer valer aquilo que julgam lhe pertencer.
No entanto, sempre haverá aquele que ousa se sobrepor às regras sociais e a passar por cima dos valores que mencionei em linhas transatas. Pois é, depois de 20 anos, o exército de cartolas ultrapassados flamenguistas resolvem revirar o passado já resolvido e trazer à tona uma discussão inútil e falaciosa.
Inútil porque, após o trânsito em julgado definitivo de uma sentença/decisão, nada mais a modificará. Ela é soberana. E não haverá aquele que, por mais pretensioso que seja, consiga inverter a ordem estabelecida das coisas. Falaciosa porque ardilosamente estribada em mentiras e meias-verdades. Aliás, “mentiras e meias-verdades” são sempre perigosas, pois, uma vez reiteradas sem a devida censura, costumam se transformar em "verdades".
É por isso que escrevo este artigo. Por mais “inútil” que possa parecer trocar palavras com esse grupo de pessoas que não respeitam a ordem social, eu prefiro não pecar pela omissão e trazer ao conhecimento de todos fatos que muitos não sabem (ou sabem distorcidamente ou sabem parcialmente). Vamos lá... vamos desmentir as principais mentiras propaladas de forma irresponsável na mídia (e propagada insistentemente pelo poder de imprensa monopolista exercida pela Rede Globo, principalmente).
O SPORT era da 2ª. Divisão em 1987? Não, não era. Em 1986, o SPORT foi classificado em 28º lugar, num campeonato com 80 times. Por sinal, vale ressaltar que o Joinville foi 14º, o Bangu foi o 21º, Portuguesa foi 11º, Treze/PB foi 24º e etc. Estes times foram condicionados ao suposto “módulo amarelo”. Por outro lado, o Goiás foi o 23º, Santa Cruz o 27º, Botafogo o 32º e o Coritiba o 44º. Estes foram para o “módulo verde” em 1987. Então, qual o critério adotado para a divisão dos módulos em 1987? O Guarani, também do "módulo amarelo", foi vice-campeão em 1986. Mais uma vez, indago: Qual o critério adotado para a divisão dos módulos em 1987?
O critério foi financeiro. Como queriam negociar diretamente com a Rede Globo, que pela primeira vez comprava exclusividade de transmissão de um campeonato, o Clube dos 13 decidiu, por vontade própria e sem nenhum respaldo legal ou contratual, dar a conotação de que o “módulo verde” era a 1ª. Divisão e o “módulo amarelo”, a 2ª. Divisão. E nem se venha falar que os “maiores” times do Brasil estavam no “módulo verde”. Sem querer citar o nome do meu amado SPORT, o próprio Guarani era uma potência na época, tendo sido vice-campeão em 1986. O Bangu foi vice em 1985. O Sport, por sinal, foi o 5º colocado em 1985, à frente do único pentacampeão brasileiro, o São Paulo, que ali foi apenas o 22º. Ainda em 1985, Fluminense foi 17º, Vasco 11º, Flamengo apenas 9º, Santos 21º e etc. Em 1986, a Inter de Limeira foi campeã paulista, por exemplo.
Na regra do campeonato de 1987, havia determinação de cruzamento entre os módulos? Sim! Havia! O próprio Carlos Miguel Aidar, fundador do Clube dos 13, explicou ao cidadão de nome Juca Kfouri, que a regra do cruzamento estava prevista. Prova maior inexiste do que a própria declaração dele gravada [
http://br.youtube.com/watch?v=obuNvEhz2fY ] – Caprichem na audiência deste vídeo quando o mesmo chegar a 02:03 min. Querem mais prova do que isto?
Esse modelo entre cruzamento de chaves/módulos/grupos foi previsto noutros anos. Em 1993, o Palmeiras ganhou do Vitória (que veio de outro módulo). Em 2000, o Vasco ganhou do São Caetano (que veio do outro módulo). Só o Clube de Regatas Flamengo que se recusou a cumprir esta pactuação.
Um argumento que a torcida saudosista do Flamengo usa para citar que o Flamengo de 1987 não deveria enfrentar o SPORT de 1987 é de que este time carioca era uma verdadeira “seleção”. Será? Se era tão “seleção” assim, não mostrou em campo. A campanha, em 1987, do Flamengo foi de 19 jogos. 9 Vitórias. 6 empates. 4 derrotas. Exato, amigo torcedor! O “imbatível” time do Flamengo se supôs “o maior time do Brasil” e “campeão da 1ª divisão” com uma campanha de menos de 50% de aproveitamento de vitórias. Desde já registro: nem teve o melhor ataque e nem a melhor defesa. Sim, antes que eu me esqueça, o artilheiro foi Muller do São Paulo, com 10 gols. Na verdade, na verdade, esse “módulo verde” foi fraquíssimo do ponto de vista técnico.
Já estou imaginando... Vai aparecer alguém para dizer que o time do SPORT era um “adversário fraco” e etc. Pode até ser que algum time tenha legitimidade para dizer isso, menos o time do Flamengo. O último confronto das duas equipes, antes de 1987, foi em 31 de março de 1982, na Ilha do Retiro. E o SPORT ganhou de 2 x 1, com o seguinte time: País; Antenor (Buíque), Marião, Aílton e Paulo Omar; Merica, Givanildo, Édson e Betinho; João Carlos (Cigano) e Bebeto. O Flamengo de 1982, como se sabe, foi um dos melhores times que o Flamengo montou: Raul; Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Vítor, Zico e Lico; Tita e Adílio. E se o SPORT tinha, em 1987, uma de suas melhores equipe de toda a história, o Flamengo de 1987 era bem inferior ao de 1982... De craque mesmo só Zico (para mim, um dos melhores meias que eu já vi jogar na vida, depois de Rivelino e Ribamar). Raul tinha saído, Marinho também, Mozer também, Júnior e Andrade idem. Que em 1987, o Flamengo tinha um bom time, isso é inquestionável (tinha Jorginho e Bebeto, ainda engatinhando no futebol). Mas invencível, jamais! Só no Brasileiro de 1987, perdera 4 vezes. E no estadual de 1987, nem se fala. Vasco campeão.
Essa é uma parte da história. Com alguns trechos que poucos lembram. Do SPORT na Libertadores de 1988, todo mundo lembra e nem precisa maiores comentários. Eu espero que aqueles que insistem em menoscabar a verdade dos fatos reflitam e se recolham. Os holofotes já cessaram. E esta história ridícula já deu que tinha que dar.
O SPORT é campeão brasileiro de 1987 e não irá dividir troféu algum. Porque dignidade não se divide. E nem se constrói com isopor. Aliás, meus parabéns aos brilhantes dirigentes do Flamengo, ao elaborarem aquela taça de isopor. Talvez este seja o material que realmente demonstre a “grandeza” da “conquista” do Flamengo. O troféu de verdade está bem guardado, com seus legítimos donos.
PELO SPORT TUDO! CONTRA TUDO E CONTRA TODOS!
Leonardo Camello